sexta-feira, 27 de maio de 2011

A Polêmica dos Livros Didáticos*

(obviamente, essa é apenas uma visão da história. Totalmente passional, e eu nem sei se concordo comigo mesmo :-)

Engraçado... tenho a impressão de que os indivíduos que estão criticando o progressismo proposto pelo livro* são os mesmos que criticam o modelo de vestibular decoreba que adotamos.

Ademais, uma proposta séria de educação visaria a levantar questões, e não a passar uma receita pronta pro aluno. E, nesse sentido, a proposta desses livros é extraordinária: dá a brecha pra discussão ser levantada em classe - o que faz bem mais sentido do que fazer de conta que tais questões sequer existam - ou, se de fato não existem, deveriam existir, acho.


Acho bonita essa súbita crença no Verbo, na Palavra Que Transforma, quase que misticamente, fazendo o aluno adotar ou não a norma culta a partir de então, sob o efeito daquelas páginas (e façamos de conta que aluno lê o livro didático, e que a mediação do professor não seja muito mais preponderante do que o conteúdo do livro).

Acho graça também nesse súbito legalismo: há um grito agora por um approach dogmático, de conteúdos herméticos e indiscutíveis. Imagino que esses que criticam os "absurdos do(s) livro(s)" cairiam pra trás com a proposta inglesa de ensino de História, por exemplo, no qual o aluno estuda uns 80% menos de temas factuais do que estudamos no Brasil... mas isso pouco importa, visto que a idéia é ensinar o aluno a buscar diferentes fontes e perceber que não há uma versão absoluta para os fatos.

Talvez a questão maior é que não confiamos na competência dos nossos professores como mediadores. Aí, preferimos e queremos que o livro didático seja o mais completamente dentro da norma possível. Aí pelo menos poderemos dormir mais tranqüilos, pois temos mais claramente o culpado - seja o professor que não aproveitou o maravilhoso material que lhe estava à disposição, seja o aluno que se absteve de imergir no saber ali exposto.

Por sinal: lembro que me divertia muito com o idealismo dos professores da Faculdade de Educação; tornei-me professor clássico de cursinho, no Objetivo (que era a negação de tudo o que se discutia na FE-USP); hoje, morando na Inglaterra fico assombrosamente grato pelo modelo na qual minha filha está imergindo ... e triste por saber que, mesmo assim, ainda falta muito pra ser ideal; e que esse estágio que aqui existe é virtualmente impossível de ser atingido por nós sociedade brasileira nos termos em que temos hoje quanto a projeto político e mentalidade da população.

(*para os que não sabem do que se trata: http://www.cartacapital.com.br/carta-na-escola/falsa-questao)