domingo, 25 de abril de 2010

Li em algum lugar que um Blog apenas se consolida depois de possuir um mínimo de 20 posts, com os mesmos mantendo certa qualidade e freqüência. Não consegui nem um nem outro por enquanto, mas eis-me aqui. 
Essa semana recebi por e-mail um post de um ex-camarada de FFLCH, o Thomas - e fiquei bastante contente de saber qual tinha sido seu paradeiro (ao que  tudo indica, um paradeiro feliz). Contudo, as críticas que fiz ao seu post sobre o Serra é a mesma que tenho contra o tipo de anti-propaganda que os Conservatives estão a exercer nos ares ingleses. 
Sinceramente, acho a  máscara da isenção, tão pregada por Benedetto Croce e outros teóricos do Método Crítico, um atributo bonito e necessário. 
Isenção, óbvio, é impossível, e sequer sou dela militante. Sou, sim, militante da necessidade de se  mascarar toda e qualquer impressão de agressividade, gratuita ou não (Professor Renato Janine que me perdoe, mas aquele seu texto sobre os agressores do menino João Hélio foi imperdoável). 
A máscara da isenção não precisa ser de primeira categoria, e nem precisa ajustar-se anatomicamente ao rosto de quem a usa. Mas que o crítico deve vesti-la, ou tê-la sempre perto de si, isso tem. 
E, creio, seja só por isso que ainda conseguimos, muito de nós, continuar a ler a Folha de vez em quando, e seja impossível de sequer pensar em folhear a Veja até a metade.

Com vocês,  alguns dos outdoors que encontramos pelas ruas na Inglaterra -  Baseados em verdades, sendo, contudo, a maioria deles falaciosos, conforme comentaremos mais adiante num futuro post, ou através da página de comentários.
Um abraço a todos!!!

(P.S. Mas vamos falar a verdade: imagine os pôsteres fantásticos que poderiam ser feitos com o alguns dos nossos políticos tupiniquins?)






segunda-feira, 19 de abril de 2010

Vulcão, Caos Aéreo e a ressurreição do Bug do Milênio

Talvez seja coisa de Historiador: dramas à parte, sempre tive um insano desejo de presenciar algum momento ou evento historicamente marcante de fato. Confesso que, bom FFLCHiano, tive sentimentos passíveis de culpa com o 11 de Setembro; sempre me encantei por tufões, furações e tempestades, assim como vivenciei uma ansiedade estranha com a dizimação que a Gripe H1N1 prometia; agora, vejo-me envolto a presenciar um fenômeno incrivelmente assombroso com a interrupção temporária de vôos aqui no Norte Europeu, assemelhando-se com algo como a concretização dos piores pesadelos que alguns tiveram à época (lembra?) do Bug do Milênio.

Primeiro, vamos aos fatos.

I
Surpreendentemente, o céu aqui na Inglaterra anda lindo.
Lindo, e silencioso.

Moro há cerca de dez milhas do Heathrow, o aeroporto de maior tráfego internacional de passageiros do mundo. Devido ao evento islandês, o Gigante encontra-se fechado, tal qual todos os outros aeroportos ingleses.

O mais assombroso é acompanhar o drama daqueles que, impossibilitados de utilizar a via aérea conforme planejado, buscam mecanismos alternativos.
Acompanhei hoje pelo rádio o relato de um grupo de 12 ingleses que alugaram um micro ônibus para conseguir ir de Veneza a Paris, enfrentando a seguir uma espera de 36 horas para comprarem tíquetes do Eurostar (o Trem de alta velocidade que interliga Londres-Paris via Eurotúnel). Cada indivíduo desembolsou 450 Euros para voltar pra casa.

Mais dramático era o caso de uma mulher cujo marido encontra-se em Israel, sem dinheiro para retornar para casa por qualquer mecanismo alternativo viável.


II
Há algumas semanas atrás, fiz com Luiza e Pérola (respectivamente filha e esposa) um bate-e-volta Londres-Veneza-Londres. Pagamos menos de cinco libras em cada passagem aérea (incluídas as taxas), e saímos daqui no sábado pela manhã para voltar no domingo à tarde, pois trabalharíamos na segunda-feira a partir das oito (e nem tínhamos como - $$$ - ficar mais do que isso).
Estava a me perguntar: Que alternativa teríamos, se acaso o Eyjafjalla houvesse soprado suas cinzas enquanto lá estivéssemos? Provavelmente procuraríamos uma Igreja (ou outra instituição qualquer) e pediríamos abrigo (e algumas roupas emprestadas, pois havíamos levado apenas uma mochila para os trës), e eu seria obrigado a arrumar algum trabalho (vulgo "bico") por lá (e teríamos potencialmente perdido o nosso emprego por aqui, ainda mais considerando que somos imigrantes recém-chegados - 18 meses - e que trabalhamos para uma agência).
Decerto estão muitos agora em situação similar.


III

Algumas rapidinhas.

1. Como eu disse: dramas à parte, sempre tive um grande desejo por viver momentos historicamente marcantes. E o que pode ser mais marcante do que esse súbito retorno (ainda que limitado no tempo e espaço) a um momento em que o movimento de pessoas encontra-se desprovido do espaço aéreo? limitado por elementos inexistentes, ainda que tecnologicamente viáveis? (vale dizer, movimento não só de pessoas. Hoje eu pude presenciar no Tâmisa algumas balsas com uma quantidade de containers muito acima do que eu costumo presenciar diariamente.

2. Encontrei ontem uma amiga que trabalha no SAC da TAM no Heathrow (que como vocês sabem, está fechado). Estava revoltadíssima porque, segundo suas palavras, todos os SAC´s das outras empresas estavam praticamente vazios - mas o da TAM estava lotadaço, com a brasileirada a reclamar indenização, alternativas, ou alguma outra espécie de jeitinho. É lugar-comum aqui entre os brasileiros o fato de termos mania de reclamar. Será?

3. As empresas aéreas inglesas que fazem vôos locais estão, tais quais as demais ligadas à Europa, amargando perdas sem-fim. Destoando da curva de perdas nos vôos locais encontra-se a Virgin, do genial empresário Richard Branson. O segredo: a Virgin Airlines faz parte do Conglomerado Virgin Group, que engloba também a Virgin Trains. Um colunista do Jornal The Guardian comentava hoje na Rádio LBC (London Biggest Conversations) que Branson está aproveitando a crise para expandir sua malha de ação e tentar oferecer serviços também no resto da Europa. Tentarei coletar informações a respeito, e comentarei em um post posterior.

4. Estou com a impressão de que o ar aqui está um pouco mais sujo. Palavras da Pérola (que é mais sensível para essas coisas devido às suas rinites, sinusites e outras ites): lembra São Paulo em dias poluídos.

Mas deve ser mera impressão;)

5. Deixo aqui algumas perguntinhas aos palpiteiros de plantão:
i. seríamos (para alegria de nós poucos e tristeza de muitos) uma geração destinada a inevitavelmente passarmos por um processo de ajuste infra-superestrutural? Afinal, nos últimos 20 anos tivemos em pauta pelo menos 3 eventos de caos iminente (o Bug do Milênio, a Gripe H1N1 e a Crise Economica - sem falar no sempre-presente Aquecimento Global ), ou estaríamos momentaneamente reféns de determinadas estruturas organizacionais (como a Telefonia, o Tráfego Aéreo, o Capital Especulativo e a Bioética)?
ii. Quais as chances de descobrirmos os efeitos de fato dessas cinzas apenas daqui a meses ou anos?
iii. As reservas dos sistemas públicos de saúde europeus mal se recuperaram dos custos da Gripe; sem querer ser alarmista, mas... será que dá confiar na índole das Agências reguladoras?
iv. Hegel, ao discutir Estética e discutir o conceito de Belo, justificou totalmente esse meu encanto pelas tragédias como o Katrina, os Tsunamis e afins. Será que isso me justifica, ou ando com muita maldade no coração? :-)
iv. À luz do caos aéreo brasileiro: acaso seria melhor guardar a lembrança de quando voar era uma opção viável?

Um abraço a todos!