(obviamente, essa é apenas uma visão da história. Totalmente passional, e eu nem sei se concordo comigo mesmo :-)
Engraçado... tenho a impressão de que os indivíduos que estão criticando o progressismo proposto pelo livro* são os mesmos que criticam o modelo de vestibular decoreba que adotamos.
Ademais, uma proposta séria de educação visaria a levantar questões, e não a passar uma receita pronta pro aluno. E, nesse sentido, a proposta desses livros é extraordinária: dá a brecha pra discussão ser levantada em classe - o que faz bem mais sentido do que fazer de conta que tais questões sequer existam - ou, se de fato não existem, deveriam existir, acho.
Acho bonita essa súbita crença no Verbo, na Palavra Que Transforma, quase que misticamente, fazendo o aluno adotar ou não a norma culta a partir de então, sob o efeito daquelas páginas (e façamos de conta que aluno lê o livro didático, e que a mediação do professor não seja muito mais preponderante do que o conteúdo do livro).
Acho graça também nesse súbito legalismo: há um grito agora por um approach dogmático, de conteúdos herméticos e indiscutíveis. Imagino que esses que criticam os "absurdos do(s) livro(s)" cairiam pra trás com a proposta inglesa de ensino de História, por exemplo, no qual o aluno estuda uns 80% menos de temas factuais do que estudamos no Brasil... mas isso pouco importa, visto que a idéia é ensinar o aluno a buscar diferentes fontes e perceber que não há uma versão absoluta para os fatos.
Talvez a questão maior é que não confiamos na competência dos nossos professores como mediadores. Aí, preferimos e queremos que o livro didático seja o mais completamente dentro da norma possível. Aí pelo menos poderemos dormir mais tranqüilos, pois temos mais claramente o culpado - seja o professor que não aproveitou o maravilhoso material que lhe estava à disposição, seja o aluno que se absteve de imergir no saber ali exposto.
Por sinal: lembro que me divertia muito com o idealismo dos professores da Faculdade de Educação; tornei-me professor clássico de cursinho, no Objetivo (que era a negação de tudo o que se discutia na FE-USP); hoje, morando na Inglaterra fico assombrosamente grato pelo modelo na qual minha filha está imergindo ... e triste por saber que, mesmo assim, ainda falta muito pra ser ideal; e que esse estágio que aqui existe é virtualmente impossível de ser atingido por nós sociedade brasileira nos termos em que temos hoje quanto a projeto político e mentalidade da população.
(*para os que não sabem do que se trata: http://www.cartacapital.com.br/carta-na-escola/falsa-questao)
2 comentários:
André, como minha formação básica foi marxista (em educação, claro. Não a teológica) me faz pensar que a leitura que você fez bate na trave. Simples, lingua do populacho não pode ser tratada como se fosse uma língua autorizada. O domínio também se dá pelo verbo, se autorizarmos a língua vulgar, perdemos o domínio.
Vai, professor de história de cursinho, faz uma força e lembra-te da reforma protestante. Não se esqueça de como Lutero chegou ao poder.
A propósito, você vem pro meu casamento?
Luquete luquete... desculpe a demora, mas só agora (3 minutos atrás) vi o seu comentário.
Gostei muito do seu comentário - acho que foi o post seu que eu mais gostei, de todos os que eu li em toda a minha vida (talvez preciso ler mais, hehehe)...
Concordo que no máximo bati na trave. Nem queria fazer o gol, na verdade. Só queria reclamar do legalismo.
Pra ser mais exato, eu também discordo do approach do livro - muito embora tenha achado interessante.
Esse post é bem cara da fase em que estou: tenho amado ler textos de pessoas de quem eu discordo em essência: Tenho lido muito mais Carl Sagan e Dawkins do que teólogos. E tendo a concordar com tudo o que eles dizem, ainda que discorde da essência.
Cara, bem que eu queria ir no seu casamento... mas não vai dar. Minha mãe casou (de novo) há uns meses atrás, e eu também não fui. Meu pai morreu alguns meses atrás, e idem... Acho que estou, literalmente, ilhado, hehe!!!
Mas queria muito comprar um presente da sua lista, mas ao invés disso vou te dar o presente em dinheiro. Infelizmente estou em crise (só eu?), e portanto não poderei ser generoso como eu gostaria, mas pelo menos o trocadinho da gravata eu mando - me passa a sua conta corrente, please...
Voltando ao mundo das letras, gostaria de fazer-te um desafio (na verdade esse é um desafio para mim mesmo). Mais que um desafio, é uma proposta de modelo a ser utilizado para o resto de sua vida: começar a escrever sermões e estudos bíblicos, enchendo de citações de Weber, Tillich, Feuerbach, Nietzche etc. O agemir fazia isso (no púlpito), e era genial. Incrível pensar que tão poucos fazem isso (e se vc conhecer algum blog em que alguém faça isso, por favor me mande o site. Eu quero fazê-lo, mas provavelmente vou demorar - provavelmente nunca fá-lo-ei, na verdade.
Dá Ibope e prestígio, e é um ótimo concreto de realização para o desenvolvimento pessoal.
Mas deixa pra depois do casamento (ou, vc poderia escrever o primeiro em sua lua de mel :-)
Abraço!!!!
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